sexta-feira, 25 de março de 2011

Boff lembra as tragédias anunciadas da humanidade

Quinta-feira, 24 de março de 2011 - 13h44min

por ALC

O sistema econômico está em confronto com a vida, busca cada vez mais uma produção voltada ao consumo, cujo preço é a depredação da Terra e a criação de desigualdades, disse o teólogo católico Leonardo Boff em entrevista a Ana D’Angelo, do jornal Brasil de Fato.
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Explicou que o sistema econômico pergunta quanto vai ganhar, já o sistema vida indaga o que fazer para produzir equilíbrio na natureza e preserva sua vitalidade. “A degradação vai continuar até se tornar insuportável. A decisão cabe à humanidade: mudar ou desaparecer”, alertou.

A sustentabilidade e o crescimento econômico seguem lógicas diferentes, afirmou Boff. A sustentabilidade se baseia na interdependência de todos com todos, a cooperação e a co-evolução de todos, respeitando o valor intrínseco de cada ser. Já o crescimento econômico é linear, pressupondo que cabe dominar a natureza e que tudo será utilizado na medida da lógica exclusiva do ser humano.

A sustentabilidade representa um novo paradigma que se opõe ao paradigma de violência contra a natureza. Ela supõe um novo acordo de sinergia, de respeito e de sentimento de pertença à natureza. Os seres humanos são chamados por serem a parte consciente e responsável dela. A maneira como a noção de sustentabilidade é utilizada pode melhorar alguns aspectos da redução de gases de efeito estufa, mas não muda a lógica de pilhagem da natureza em vista à acumulação, enfatizou o teólogo de tradição franciscana.

Uma gota de água caída do céu não significa nada, exemplificou. Mas milhões e milhões de gotas produzem um chuva e até uma tempestade. “Devemos pensar que tudo tem a ver com tudo em todos os momentos e circunstâncias. E como tudo está conectado, devo pensar em como o bem que pessoalmente faço não fique reduzido ao meu mundo. Se ele entra no circuito das interdependências, pode deslanchar grandes mudanças. Se não posso mudar o mundo, sempre posso mudar esse pedaço de mundo que sou eu mesmo. E como a crise é global e atinge a todos, somos convocados a dar a colaboração”, apontou.

A maneira como as culturas produzem seus parâmetros éticos, pode criar pistas para a convivência mínima entre todos. Hoje, lembrou, vive-se uma fase planetária. “Estamos juntos na mesma casa comum, mas ninguém tem direito de impor seus valores particulares aos demais. Por isso, a ética deve partir de algo básico, comum a todos, de forma que todos possam se identificar com aqueles valores e princípios.”

Cada qual preciso ter consciência das conseqüências de seus atos, alguns dos quais podem ser letais para toda a espécie humana, frisou o pensador catarinense. É preciso um senso mínimo espiritual segundo o qual a vida tem sentido, o universo não é absurdo, a verdade sempre representa um valor e o amor é o laço que une todos os seres e traz felicidade à vida.

Um bloco econômico como os Brics (Brasil, Rússia, Índia e China) é importante porque pode mostrar os valores do Grande Sul, quebrar a hegemonia do Norte e obrigar as potências econômicas e militaristas a ouvi-los. Mas se adotarem um paradigma mimético, imitando as lógicas das potências ocidentais, podem acelerar a gravidade da crise. Se a China e a Índia quiserem consumir como o Ocidente (e cada um desses países possui uma classe média de pelo menos de 300 milhões de pessoas) seguramente irão desestabilizar o processo produtivo da Terra, disse.

Os seres humanos, como os mais inteligentes, devem partir da constatação de que pertencem à natureza eles são a parte consciente e amante da Terra e simultaneamente a parte desequilibradora e destruidora dela. “Possivelmente só iremos aprender e tomaremos decisões fundamentais quando grandes ameaças atingirem nosso destino. Só então percebermos que não temos outra alternativa senão mudar o modo de relacionamento com todos os seres, as formas de produção e consumo, os espaços de convivência pacífica e tolerante entre os mais diversos povos”, admoestou.

Os tempos atuais são dramáticos, haja vista as tragédias sísmicas. Não representam ainda uma tragédia anunciada, mas significam seguramente uma grande crise de civilização. Os antropólogos dizem que em tempos assim fervilham as religiões e se aprofundam os caminhos espirituais. Eles formam aquele campo da experiência humana em que se elaboram os grandes sonhos e utopias, redescobrindo o sentido da vida e rasgando horizontes de esperança.

O segredo da felicidade e a quietude do coração não se encontram nas ciências, nem na acumulação de poder, mas no cultivo da razão sensível e cordial, ensinou. Esta se identifica com aquela dimensão do profundo humano, no qual medram os valores e vige o mundo das excelências. Lá, nascem os sonhos e os valores que podem inspirar um novo ensaio civilizatório.

Boff concluiu enfatizando que o sistema-Terra é complexo, mas frágil. E que as mínimas mudanças podem acarretar, devido ao caráter sistêmico, grandes mudanças no todo.

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