quinta-feira, 4 de abril de 2013

Rede de Educação Cidadã

No primeiro ano do primeiro governo Lula, 2003, foi articulada uma rede de entidades, movimentos e pessoas chamada Rede de Educação Cidadã. A iniciativa surgiu para dar resposta à demanda da participação popular nos rumos do País e enfrentar nosso maior problema social, a desigualdade.

Conhecida como Recid foi criada sob a liderança de Frei Beto a partir do gabinete pessoal da Presidência da República como parte do programa Fome Zero. Sua missão: promover práticas de educação popular, garantindo a democracia direta na gestão do Programa, e contribuir para a retomada de um projeto popular de nação desde a base. Além da “fome de pão”, as atividades de educação cidadã visavam saciar a “fome de beleza”, em outras palavras, de poder.

Muito tempo passou. Dez anos. Hoje a Recid tem outro formato e outro foco. Preserva a missão inicial de fazer “trabalho de base” junto com diversos grupos, que são uma amostra das classes subalternas brasi- leiras. Seu principal desafio continua sendo trabalhar para aumentar o nível de consciência do povo brasileiro, com isso incentivar a participação popular e contribuir para radicalizar a democracia. Contudo, seu vínculo com o Fome Zero e com o Bolsa Família não são mais o único mote da Rede.

A natureza desta articulação é mista, par- te Sociedade Civil, parte do Estado. Se hoje a Rede é constituída por uma gama enorme de atores da sociedade civil o é também por uma equipe do Governo Federal – o Departamento de Educação Popular e Mobilização Cidadã da Secretaria-Geral da Presidência da República – e suportada por um convênio junto à área de Educação em Direitos Humanos da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República. Costumamos dizer que a Rede tem um “pé-dentro” e um “pé-fora”.

Os dez anos da Recid coincidem com os dez anos de um Governo Federal originado principalmente da luta contra a ditadura e da efervescência dos anos 1980. Uma das principais lutas que deram origem a este governo é o trabalho de “conscientização” gerado e ge- rador da estratégia democrático popular.

A estratégia de disputa de hegemonia articulando comunicação, educação e cultura em uma ação integrada de construção de novos valores e relações sociais, foi a outra face da crítica ao modelo econômico e político. A construção do poder popular, além de um regime democrático, representa a reconstrução de nossa sociabilidade com base na justiça e na solidariedade.

Mesmo com as melhorias  recentes das condições de vida da população, o Governo Federal ainda tem muito que construir para mudar o Brasil. Se o “fim da miséria é só o começo” a hora é de se intensificar o legado de dez anos de mais participação social, mais diálogo com a sociedade e da construção de um Estado educador e educando, que fomente a organização popular e a participação política, que fortaleça um projeto autônomo de sociedade e um modelo democrático e popular de desenvolvimento.

Neste ano de 2013 começa a II Conferên- cia Nacional de Educação (Conae 2013/2014) e acontece 53º Congresso da UNE. São momentos importantes para debater qual educação queremos, e qual o papel da mesma em um projeto democrático popular. A Recid quer recolocar a educação popular, emancipatória, que fomenta a mobilização popular em torno de um projeto de sociedade, que abre a escola e a universidade para as demandas populares e reconheça que educação é muito mais do que escola novamente como prioridade. Educação que se pratique com a organização popular, com movimentos sociais, sindicais, etc.

Retomando estas ideias a Recid promoverá, em articulação com a Conae, encontros estaduais para debater a proposta de uma Política Nacional de Educação Popular. Serão 27 encontros, um em cada estado brasileiro, oportunidade única de ampliar o debate sobre a educação para diversos seguimentos sociais e fortalecer a construção de um futuro em que o fim da miséria seja realmente só o começo.

É um processo imenso, envolve quase 100 mil participantes em mais de duas mil oficinas de base por ano. Contudo, ainda muito pequeno para o tamanho do nosso País, insuficiente para alterar a correlação de forças e aquém dos nossos sonhos.

O grande desafio desta rede continua sendo o de tornar-se um espaço de referência para reconstrução dos referenciais políticos da esquerda pela base e fortalecer um projeto democrático popular de governo e de país. Algo que se torna cada dia mais necessário para que possamos avançar e poder dizer com firmeza que o fim da miséria é realmen- te só o começo.

*Marcel Franco Araújo Farah é integrante do Coletivo Nacional da Rede de Educação Cidadã

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