terça-feira, 5 de março de 2013

Por trás das marcas

por tras das marcas


POR LETICIA FREIRE
Ao passar pela gôndola do supermercado, muitos consumidores não se dão conta que por trás de um pacote de café, macarrão ou uma simples barra de chocolate, existe toda uma cadeia de produção e distribuição que movimenta uma verdadeira fortuna.

Para se ter ideia do quão suculento é o mercado de alimentos e bebidas, dados da mais recente campanha da Oxfam revelam que o volume de negócios gerado pelas 10 maiores empresas do setor alimentício do mundo – Coca-Cola, Danone, General Mills, Kelloggs, Mondelez International (Kraft), Mars, Nestlé, PepsiCo, Unilever, ABF – está avaliado em US$ 800 bilhões, cerca de 17% do PIB do Brasil em 2011. Elas fazem parte de uma indústria de US$ 7 trilhões, o que corresponde a 10% da economia global; maior, inclusive, do que o setor energético. Escondidos atrás dessa abundância financeira, estão milhares de pessoas que não compartilham da mesma prosperidade.

Problemas como fome, miséria, concentração de terra, exploração de mão de obra, acesso e uso da água, transparência de informação entre outros assuntos são abordados no relatório Por trás das Marcas, que analisa os impactos sociais e ambientais das dez maiores empresas do setor de alimentos e bebidas do planeta na sua cadeia de fornecedores em países em desenvolvimento.

A ideia da publicação é sensibilizar os consumidores sobre a questão das cadeias produtivas e alertar sobre a corresponsabilidade das empresas na redução das desigualdades sociais e econômicas ao longo do processo.

Produção mais justa e sustentável

O estudo Por trás das Marcas examina as políticas das empresas em sete temas considerados cruciais para a produção agrícola sustentável e historicamente negligenciados pelo setor de alimentos e bebidas: mulheres, agricultores familiares e de pequena escala, trabalhadores rurais, água, terras, mudança climática e transparência.

De acordo com esses critérios, a Nestlé e a Unilever apresentam atualmente melhor desempenho que as outras empresas, tendo desenvolvido e publicado mais políticas visando combater riscos sociais e ambientais dentro de suas cadeias de fornecimento. Na outra ponta, a ABF e a Kellog têm poucas políticas para tratar o impacto que suas operações causam em produtores e comunidades.

No entanto, o raking também mostra claramente que todas as “10 Grandes” – inclusive aquelas com melhores notas – não utilizam o enorme poder que têm para ajudar a criar um sistema alimentar mais justo. Em alguns casos, as políticas das empresas põem em risco a segurança alimentar, pois as práticas do agronegócio são conflitantes com a agricultura familiar, responsável por um 1/3 dos alimentos consumidos pela população mundial. Além disso, os dados apontam que o desconhecimento da forma de produção e das condições de trabalho no campo é comum a todas as empresas.

Sobre os programas de responsabilidade social e sustentabilidade que as empresas implementaram até o momento, os dados revelam que as ações implantadas não serão efetivas para a diminuição das causas subjacentes da fome e da pobreza enquanto as empresas não tiverem políticas adequadas para orientar as operações de suas próprias cadeias de fornecimento.

Entre as falhas mais importantes destas políticas o documento cita:

• As empresas mantêm excessivo sigilo sobre suas cadeias de fornecimento de matérias-primas, tornando as alegações de sustentabilidade e responsabilidade social difíceis de serem verificadas;

• Nenhuma das “10 Grandes” tem políticas adequadas para proteger as comunidades locais da apropriação de terra e água ao longo de suas cadeias de fornecimento;

• As empresas não têm tomado medidas suficientes para evitar os altos níveis de emissão de gases de efeito estufa decorrentes da agricultura, que são responsáveis pela mudança climática e afeta os agricultores;

• A maioria das empresas não propicia o acesso adequado de produtores de pequena escala e agricultores familiares às suas cadeias de fornecimento e nenhuma empresa se comprometeu a assegurar que eles recebam um preço justo por seus produtos;

• Apenas uma minoria das “10 Grandes” está fazendo alguma coisa para evitar a exploração de agricultoras e trabalhadoras em suas cadeias de fornecimento.

Confira aqui o relatório completo (em inglês). Consulte aqui as informações em português.

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